O alerta de Taniguchi: O desprezo da esquerda japonesa pela nação, tradição e soberania
O que vem após o colapso do “grande partido-tenda” do Japão — O PLD no fim do seu arco de 70 anos
Por Tomohiko Taniguchi, Conselheiro Especial da Fujitsu FSC, ex-Conselheiro Especial do Gabinete do Primeiro-Ministro Shinzo Abe
Durante muito tempo, o Partido Liberal Democrático (PLD) foi um “partido-tenda” — uma estrutura ampla o suficiente para abrigar quase tudo sob seu dossel. À direita ou à esquerda, todos eram bem-vindos. Mas a tenda era sustentada por um único pilar conservador, que nos últimos anos era firmemente apoiado com ambos os braços pelo falecido ex-primeiro-ministro Shinzo Abe.
70 anos desde a fundação: o começo do fim
Naquela época, a tenda se erguia alta e visível ao mundo. Então Abe se foi. Embora cabos de sustentação descessem do pilar central até o solo, Fumio Kishida, o primeiro-ministro anterior, arrancou todos eles. Se ele realmente acreditava que a estrutura ainda se manteria de pé, sua miopia é incompreensível. De fato, ouvimos o colapso em 20 de julho com os resultados das eleições para a Câmara Alta — um rasgo alto da lona, e toda a estrutura desabou.
O partido foi fundado exatamente há 70 anos. Em uma época em que acadêmicos e intelectuais culturais caíam sob a influência soviética, apenas o PLD manteve firme sua posição anticomunista. Apesar das críticas, sustentou a Aliança de Segurança Japão-EUA graças aos esforços vigorosos de Nobusuke Kishi.
Se alguém debochar da democracia japonesa dizendo que o partido governista nunca muda, diga a essa pessoa: não havia alternativa viável.
Desde que alguém defendesse a propriedade privada e a aliança Japão-EUA, o partido aceitava todo o resto — tornando-se uma verdadeira tenda ampla. Impulsionado pelo crescimento econômico acelerado, expandiu o estado de bem-estar social, estendeu a mão à esquerda e absorveu o confronto político.
Surgiu uma era em que todos os partidos defendiam mais assistência social e trancavam as memórias perturbadoras da guerra em uma “caixa metafórica”. De forma superficial ou não, todos eram, essencialmente, membros do PLD.
Era também um tempo de crença ingênua de que a ditadura comunista vizinha nunca se tornaria uma superpotência, nem perturbaria a ordem mundial com uma expansão militar sem precedentes.
Abe e seus aliados, que buscavam abrir essa caixa selada e guiar o Japão rumo à autoestima e à autodefesa, foram expulsos justamente quando sua hora havia chegado. E assim começou o fim do PLD.
Após o colapso da tenda
Com a cobertura caída, a divisão entre direita e esquerda se mostra mais nítida do que nunca.
Diferente dos EUA, no Japão o tamanho ou o alcance do governo não define as linhas ideológicas.
Num país como o Japão — onde os gastos sociais rivalizam com o orçamento militar dos EUA — falar de “governo pequeno” é inviável.
Assim, o conservadorismo japonês é melhor descrito como monarquista ou tradicionalista. Os dois termos refletem a preservação da linhagem imperial.
A Família Imperial, com sua continuidade milenar, representa um fio raro da história humana. O tradicionalista vê valor naquilo que sobreviveu por tanto tempo, reconhecendo os incontáveis sacrifícios anônimos que sustentaram esse legado.
O Japão está repleto de santuários, templos, costumes e tradições preservados por séculos. O tradicionalista se horroriza com a violência de forças súbitas — hoje rebatizadas de “turismo” — que pisoteiam esse patrimônio.
O partido Sanseito captou esse sentimento com seu slogan um tanto provocativo: “Japão em primeiro lugar”.
Hoje, a esquerda não rejeita mais abertamente o capitalismo nem a aliança Japão-EUA. Mas ainda reage com repulsa visceral à bandeira Hinomaru, e cantar o hino nacional “Kimigayo” parece romper algo dentro deles.
Quem nos mostrará o caminho a seguir?
Eles encaram sua identidade japonesa com distanciamento — nunca com orgulho.
Eventualmente, tudo que é nacional torna-se objeto de ódio.
Para a esquerda, a imigração é bem-vinda, pois dilui ou distorce os valores japoneses.
Logo, provavelmente defenderão cidadania automática para qualquer pessoa nascida em solo japonês.
Também se pode entender por que a esquerda é cada vez mais anti-Israel: uma nação que se arma para sobreviver, cercada de inimigos, representa um nacionalismo extremo — e, por isso, é repulsiva para eles.
Por outro lado, permanecem em grande parte em silêncio diante da militarização agressiva da China.
Enfrentá-la de forma séria exigiria abraçar a identidade nacional — algo que abominam.
Elementos que hoje chamamos de “esquerda” sempre existiram dentro do próprio PLD.
As eleições recentes empurraram muitos conservadores para a votação proporcional e para fora do poder, deixando o controle nas mãos da ala esquerda interna do partido.
Agora que os conservadores estão saindo ou sendo expulsos, para onde vai o PLD — o partido-tenda sem sua cobertura?
O estado de imobilismo que antes definia a política japonesa já não existe.
Tudo está em fluxo.
A menos que líderes surjam, um a um, para declarar claramente “este é o caminho a seguir”, a insatisfação do eleitorado só aumentará.
E a insatisfação, quando deixada a fermentar, convida à instabilidade.
(Tomohiko Taniguchi)